Especialistas trataram das mudanças necessárias para que serventias acompanhem a Era Digital e fortaleçam suas gestões
Na última sexta-feira (2), “Empreendedorismo e Gestão de Pessoas”, elementos fundamentais para o desenvolvimento e aprimoramento dos serviços cartorários no Brasil, fizeram parte do painel final da Conferência Nacional dos Cartórios.
Durante a palestra – mediada pelo Tabelião de Notas do Amazonas, Marcelo Lima Filho, e pelos especialistas Marco Antônio de Souza Martins, Consultor Empresarial, e José Elias Albuquerque, Registrador Civil do Ceará – foram abordados os pilares para o melhor atendimento da população nacional e para o fortalecimento da classe de notários e registradores.
Filho abriu a mesa de debates apontando que, embora concursos para cartórios estejam entre os mais concorridos e disputados do meio jurídico nacional, sua gestão não é trabalhada durante a formação em Direito. “Todos sabemos os esforços e a dedicação necessários ao ofício. O assunto de hoje tem tudo a ver com a trajetória de cada um de nós, pois a graduação não nos prepara para os desafios da gestão cartorária, apenas a prática faz isso”.

Para o tabelião, profissionais da área precisam estar preparados tanto para implantar um cartório do zero quanto para lidar com um cenário de terra arrasada. “Em ambos os casos – na estruturação ou na reestruturação – resiliência, paciência e persistência são qualidades fundamentais. Devemos nos lembrar, também, que para criarmos uma boa dinâmica de prestação de serviços atravessamos um longo caminho, captando clientes, recrutando colaboradores, gerando relacionamento com fornecedores e autoridades. É necessário muito empenho e disposição. Por isso, se assenhorem, tenham planejamentos estratégicos, metas e objetivos”, afirmou.
Na sequência, Martins tratou de Transformação Digital e Gestão de Pessoas, guiando sua apresentação por três noções basilares. De acordo com o especialista, toda transformação, para acontecer com sucesso, exige a sinergia entre alguns fatores. No caso da inovação, é preciso que potencial humano, cultura e tecnologia se combinem. “A transformação digital não se refere apenas ao advento tecnológico, mas à implementação de uma nova cultura. Ela torna imprescindível uma mudança de modelo mental, em que a modernização e a atualização do comportamento são diárias”.
Ou seja, o que antes era vinculado apenas ao incremento de produtividade e agilidade de processamento, ganhou outros ares e com outras necessidades. “Na transformação atual, a tecnologia é apenas uma ferramenta em uma revolução muito mais profunda”, enfatizou Martins.
Por isso, o potencial humano e a gestão de pessoas ocupam lugares centrais no debate, em que é preciso haver, inclusive, um mapa geracional, avaliando o que cada colaborador, dentro de seus atributos geracionais, está apto a realizar da melhor forma. “Os Baby Boomers, por exemplo, podem encarar a tecnologia como um dificultador e, por suas experiências, ficam melhor alocados em atividades estruturais. As Gerações Y e Z, por sua vez, apresentam uma maior adesão e a Geração Alpha já nasce no ambiente digital. O que fica de lição aqui é que as grandes mudanças passam pela gestão de pessoas e precisamos pensar em modos eficientes de encaixar cada uma delas”, explicou.
Assim como o capital humano, a transformação digital precisa ser parte do negócio. Cabe às lideranças e aos planos estratégicos pensarem formas de estabelecer um novo ecossistema para identificar e atuar sobre a tecnologia e suas inovações. “Desta forma, precisamos capacitar colaboradores com alfabetização digital, gerir a mudança de forma assertiva, enxergar a transformação como um investimento – não um custo – e criar práticas que sejam inclusivas, colaborativas e participativas, compartilhando conhecimento”, destacou Martins.
Outro ponto chave apontado pelo especialista foi o papel da liderança como inspiração para que o processo seja bem-sucedido. “Os líderes devem estimular o mindset digital, impulsionando a adaptabilidade da empresa e a mudança de paradigmas. É por meio da combinação entre pessoas e tecnologias que geramos inovação”.
Encerrando o debate, o Registrador Civil do Ceará, José Elias Albuquerque, explicou que empreender é a capacidade de identificar problemas e oportunidades, desenvolver soluções e investir recursos na criação de algo positivo para a sociedade. “Quando se olha para a atividade notarial e registral, tem-se que ter em vista as habilidades pessoais necessárias ao desenvolvimento de serviços de qualidade. Sendo assim, precisamos de análise e planejamento pessoal dos riscos e oportunidades, da disposição de caixa para sustentar sazonalidades e das etapas estratégicas necessárias ao sucesso do empreendimento”.
Segundo Albuquerque, mais do que uma estratégia para passar no concurso de provas e títulos, é necessária uma análise de como funciona o sistema notarial e registral, que possui características próprias e uma gestão complexa – de pessoas, finanças, projetos, comunicação e tecnologia. Para reforçar sua fala, o registrador citou a ABNT-NBR 15.906/21, que afirma que a adoção de um sistema de gestão é uma decisão estratégica para um serviço notarial e registral, contribuindo para a melhoria do seu desempenho global e provendo uma base sólida para a iniciativa de desenvolvimento sustentável. “A norma ainda elenca os principais benefícios de um sistema de gestão cartorária. Entre eles: facilitar oportunidades para a satisfação de clientes, melhorar o entendimento de riscos e oportunidades no contexto do negócio e manter a conformidade com os requisitos de sistemas de gestão da excelência”.
A contribuição da norma da ABNT para notários e registradores também favorece a implementação de políticas em gestão estratégica, gestão de pessoas, gestão socioambiental, compliance, inovação e continuidade do negócio. “Além de ter fé que a celeridade do tempo digital vai solucionar distorções do nosso sistema, penso que todos nós devemos acrescentar no planejamento estratégico das serventias o engajamento e a representatividade. Pois, participando e fortalecendo as entidades, colheremos bons frutos”, finalizou.