A Arpen-Brasil conversou com Marcelo Oliveira, engenheiro de software que auxiliou a análise de dados relacionados aos óbitos causados pela doença
No mês em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o fim da situação de emergência da Covid-19 no mundo, a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, Arpen-Brasil, conversou com o engenheiro de software Marcelo Oliveira. O profissional teve um papel fundamental junto ao Registro Civil desde o início da pandemia com a divulgação de uma informação crucial para monitorar o surto em solo brasileiro: o de mortes em decorrência do vírus. Motivado pelo desejo de contribuir durante o período crítico de saúde sanitária mundial, Oliveira decidiu atuar voluntariamente com os dados relacionados aos óbitos causados pela doença.
Confira a entrevista completa abaixo:
Como foi sua integração na equipe que analisava e coletava as informações sobre os registros de óbitos diretamente junto ao Registro Civil?
Marcelo Oliveira – Foi exatamente devido ao Portal da Transparência, eu coletei os dados e fiz um gráfico da subida em Manaus que postei no Twitter, isso chamou atenção e fiz uma matéria com o Paulo Lotufo e o Helio Gurovitz. Então, me chamaram para criar um grupo voluntário de informação da covid, que decidimos chamar de Infovid.
O que lhe motivou a atuar voluntariamente com os dados relacionados aos óbitos causados pela Covid-19?
Marcelo Oliveira – Acho que foi um misto de querer ajudar em algo na pandemia, ter conhecido as pessoas certas, gostar da área da saúde, e pela curiosidade e aprendizado.
Na sua opinião, naquele momento, qual a importância de ter à disposição de toda a população, por meio do Portal da Transparência do Registro Civil, inúmeros materiais sobre as mortes decorrentes da doença?
Marcelo Oliveira – No começo da pandemia havia uma grande escassez de dados, testávamos muito pouco e estávamos às cegas quanto ao real nível de casos aqui no Brasil. No entanto, temos um bom sistema de notificação e rastreamento de mortalidade, e poderíamos usar um indicador chamado de Excesso de Óbitos. Por meio dele conseguimos detectar desvios da quantidade esperada de registros de pessoas que faleceram durante um período. Como diz o professor Paulo Lotufo; “o grande epidemiologista acaba sendo o coveiro”.
Porém, infelizmente, esse é um indicador que pode levar semanas – entre a pessoa se contaminar, ter complicações, vir a óbito e, finalmente entrar no sistema. O SUS mantem o SIM (Sistema de Informação da Mortalidade) que é bem completo, mas só era computado anualmente.
Foi nesse momento que apareceu o Portal da Transparência do Registro Civil fornecendo dados atualizados diariamente. Então conseguimos detectar padrões como no Amazonas, em que o número de registros médio por dia quadruplicou em uma única semana, indicando claramente que havia algo de errado.
Agora, no mês que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o fim da pandemia de Covid-19, como você avalia todo o trabalho feito durante esse período no que tange a divulgação de dados sobre a doença que paralisou o mundo?
Marcelo Oliveira – Acho importante deixar claro que a pandemia ainda continua, o que foi decretado foi o fim da situação de emergência da Covid-19. Infelizmente, assim como outros vírus como o da gripe, vamos ter que aprender a conviver com ele e continuar monitorando e se vacinando para controlar os casos. Existem sistemas, como InfoGripe, que monitoram ativamente os casos de doenças respiratórias que continuam atuando e divulgando os dados.
Acredito que à medida que a pandemia foi avançando, fomos melhorando a divulgação e o governo, por pressão pública, começou a publicar dados mais frequentes e confiáveis. O que mais pecou nesta área não foram os dados em si, mas a comunicação geral das medidas protetivas, segurança da vacinação etc.
É possível dizer que o trabalho realizado junto ao Registro Civil foi decisivo nortear ações de combate à Covid-19 e estudos futuros sobre esse período?
Marcelo Oliveira – Foi e ainda é importante, pela agilidade e simplicidade de acesso aos dados, mesmo não sendo da responsabilidade do Registro Civil as informações relacionadas a área da saúde, o site continua no ar. Diversos estudos, lançados em revistas de alto impacto usaram os dados dos cartórios.